Coronavírus: expectativas positivas com a vacina em meio à 2ª onda da pandemia

13/11/2020

Coronavírus: expectativas positivas com a vacina em meio à 2ª onda da pandemia

Na semana em que o mundo ultrapassou a marca de 50 milhões de casos confirmados de Covid-19 e de 1,2 milhão de mortes pela doença, os principais destaques foram os resultados preliminares da 3ª etapa de testes da vacina contra a Covid-19 produzida conjuntamente pelas farmacêuticas Pfizer e BioNtech.

Os resultados mostraram que a vacina foi mais de 90% eficaz nas primeiras 94 pessoas que foram infectadas pelo novo coronavírus e que apresentaram ao menos algum sintoma. Por conta disso, as companhias devem encaminhar o pedido de aprovação junto às agências reguladoras ainda este mês.

Assim, apesar das dificuldades de alguns países em controlar a pandemia, o desenvolvimento acelerado de vacinas para a Covid-19 mantém positivas as expectativas a respeito do controle da pandemia e da recuperação da economia global.

Cenário para a Covid-19 ainda é desafiador em alguns países

Nas últimas semanas, alguns países apresentaram recorde no número de novos casos confirmados de Covid-19. Os EUA, por exemplo, apresentaram mais de 100 mil casos, em média nos últimos 7 dias.

Conforme apresentado na Figura 1, algumas das maiores economias europeias também apresentaram aumento significativo no número de casos – muitas vezes superiores aos valores registrados durante a primeira onda da doença. França, Alemanha, Itália e Reino Unido continuam registrando números elevados de casos, enquanto Espanha mostra sinais de estabilização, embora ainda em um patamar elevado.

Figura 1: Média Móvel de 7 dias do número de casos confirmados de Covid-19;
Fonte: Bloomberg. Elaboração: SOMMA Investimentos.

Além disso, houve um aumento significativo no número de pessoas hospitalizadas na maior parte destes países. Conforme ilustrado na Figura 2, que apresenta a evolução de pessoas hospitalizadas na UTI a cada 100 mil habitantes (para ajustar à população de cada país), a situação de alguns países da Europa – tais como Bélgica, República Tcheca e França – se agravou de maneira significativa nas últimas semanas.

Figura 2: Número de pessoas hospitalizadas na UTI por 100 mil habitantes em países selecionados;
Fonte e Elaboração: Nordea.

Como resultado, alguns países europeus retomaram medidas drásticas de distanciamento social e, em alguns casos, adotaram políticas de lockdown. A Tabela 1 apresenta um resumo das políticas adotadas por algumas das maiores economias europeias.

Tabela 1: Restrições anunciadas em países europeus selecionados; Fonte: BBC. Elaboração: SOMMA Investimentos.

 CORRIDA PELA VACINA

O desenvolvimento de alguma vacina ou tratamento comprovadamente eficaz para a Covid-19 continua sendo a principal forma de se reduzir (ou até mesmo eliminar) a necessidade de adoção de medidas de distanciamento social.

Conforme destacamos no Comentário SOMMA 54, o desenvolvimento das vacinas compreende 5 etapas principais, que são:

  1. Pesquisa básica e testes pré-clínicos;
  2. Fase I de avaliação clínica: Testes iniciais em humanos com o intuito de se avaliar, principalmente, a segurança da vacina;
  3. Fase II: Definição do tamanho ideal da dose e avaliação mais detalhada da resposta do sistema imunológico;
  4. Fase III: Última etapa de testes clínicos, que aborda um número grande de voluntários para se verificar, em larga escala, a eficácia da vacina;
  5. Avaliação pelas agências reguladoras: Etapa que antecede a disponibilização da vacina para a população em geral.

A Figura 3, apresenta o número atual de candidatas por etapa de desenvolvimento. Como é possível perceber, há mais de uma centena de vacinas sendo desenvolvidas, das quais 11 estão na terceira e última etapa de testes.  Também é importante notar que 6 vacinas já foram aprovadas para uso emergencial/limitado.

Figura 3: Quantidade de vacinas por etapa de desenvolvimento;
Fonte: NY Times e OMS. Elaboração: SOMMA Investimentos.

Vacina da Pfizer e BioNtech

Entre as vacinas que estão na Fase III, a desenvolvida pelos laboratórios das farmacêuticas Pfizer e BioNtech foi a primeira a divulgar resultados sobre a etapa final de testes. Nesta semana, as empresas anunciaram que a vacina apresentou uma eficácia superior a 90% nos primeiros 94 voluntários que participam dos testes e receberam uma segunda dose da vacina (que, por sua vez, foi aplicada 3 semanas após a dose inicial).

Com base nos resultados, as empresas devem encaminhar o pedido de aprovação junto às agências reguladoras. No caso dos EUA, a entidade responsável pela aprovação de vacinas e/ou tratamentos é a FDA (Food and Drug Administration).

Para conceder a aprovação, a FDA determina que seja feito um acompanhamento de, ao menos, 2 meses sobre os voluntários dos testes, para observar possíveis efeitos colaterais. Segundo a Pfizer, caso os dados não mostrem qualquer efeito adverso da vacina, a partir da terceira semana deste mês já seria possível encaminhar o pedido de aprovação junto à agência reguladora norte-americana.

Desta forma, os próximos passos para desenvolvimento da vacina da Pfizer/BioNtech consistem em:

  1. Apresentar dados que assegurem a segurança após a aplicação: É possível que os resultados sejam divulgados ​​na próxima semana. Cabe ressaltar que, desde que os testes (que incluem mais de 40 mil voluntários) começaram, não houve notícias de efeitos colaterais.
  2. Aprovação da FDA: Pode acontecer ainda este mês, caso os dados mostrem segurança da vacina;
  3. Produção, distribuição e aplicação das vacinas: As empresas esperam produzir cerca de 50 milhões de doses neste ano e 1,3 bilhão em 2021. A distribuição deve ser feita inicialmente em países desenvolvidos (como EUA, União Europeia, Japão, por exemplo).

Apesar do otimismo (justificado) a respeito da possibilidade de aprovação de alguma vacina, ainda este ano, algumas questões seguem pendentes, dentre as quais podemos destacar:

  1. Por quanto tempo as pessoas ficarão protegidas/imunes? Caso haja a necessidade de aplicação anual da vacina (reforço), haverá a necessidade de se produzir um número extremamente elevado de doses – tendo em vista que algumas das candidatas mais avançadas estão sendo aplicadas em um regime de duas doses.
  2. As vacinas serão eficazes na proteção de grupos de risco (sobretudo idosos)?
  3. Quantas pessoas desejam ser vacinadas? No caso dos EUA, por exemplo, uma pesquisa da CNN mostrou que se alguma vacina estivesse amplamente disponível a um custo baixo, mais de 40% não buscariam se vacinar.

Além destas questões, cujas respostas saberemos apenas mais adiante, é preciso considerar que a aplicação de algumas vacinas trará dificuldades logísticas significativas – o que impõe um desafio grande, sobretudo para países emergentes. No caso específico da vacina Pfizer/BioNtech, por exemplo, as doses precisam ser armazenadas em temperaturas extremamente baixas (-70ºC).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme destacamos, nas últimas semanas houve um aumento expressivo no número de novos casos de Covid-19 na Europa e nos EUA. Como resultado do crescimento das hospitalizações, algumas autoridades europeias anunciaram o retorno de medidas de lockdown, entre outras medidas para reforçar o distanciamento social.

Apesar de os riscos relacionados à 2ª onda da Covid-19 continuarem sendo uma das principais ameaças à recuperação da economia global, pode-se afirmar que a perspectiva de desenvolvimento de um número elevado de vacinas, e em tempo recorde, esteja contrabalanceando esses riscos.

Não obstante, reconhecemos que existem inúmeras dúvidas a respeito das vacinas. Dentre estas, podemos destacar possíveis dificuldades para produção, armazenamento e distribuição das doses, além da falta de dados a respeito da duração da imunidade que é adquirida por quem recebe a vacina

Assim, seguimos cautelosamente otimistas para a recuperação da atividade econômica global. Além disso, caso outras companhias que estão à frente no desenvolvimento de vacinas reportem resultados positivos nos seus testes, podemos ter um potencial de inoculação ainda maior, de modo a tornar as perspectivas ainda mais positivas.

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