A evolução do Coronavírus no Brasil

10/07/2020

A evolução do Coronavírus no Brasil

Conforme mostrado no Comentário SOMMA 54, nas últimas semanas os mercados financeiros têm apresentado uma melhora significativa. Tal melhora aconteceu, sobretudo, devido à recuperação das economias, que estão relaxando suas medidas de isolamento, apesar do risco de uma 2ª onda de Covid-19.

Aqui no Brasil, diversos estados e municípios também passam pelo processo de reabertura econômica. Na cidade de São Paulo, por exemplo, bares, restaurantes e salões de beleza reabriram nesta segunda-feira (6). A reabertura, entretanto, não é consequência de uma pandemia controlada. Por aqui, os números de novos casos e novas mortes continuam aumentando e, na última semana, chegamos à marca de 1,7 milhão de pessoas infectadas pelo novo coronavírus.

Diante desse cenário, algumas perguntas extremamente importantes seguem sem respostas: Quando será o pico da pandemia no Brasil? Novos lockdowns voltarão a acontecer?  E são essas as perguntas que esse comentário tentará responder.

O objetivo deste comentário é apresentar a evolução da pandemia de Covid-19 no país e suas perspectivas para os próximos meses.

A EVOLUÇÃO DA PANDEMIA NO BRASIL

A pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil em março, com o primeiro caso sendo confirmado pelo Ministério da Saúde no dia 04 daquele mês. Na metade do mesmo mês, medidas de isolamento social começaram a ser impostas em diversas localidades do país, inclusive no município de São Paulo, onde a propagação do vírus teve um avanço maior.

Conforme é possível observar na figura abaixo, nesse período, o índice de isolamento social do país alcançou o seu pico, chegando a 62,2%, no dia 22 de março. A partir de então, o índice iniciou tendência de queda, oscilando entre 40% e 50%.

Índice de isolamento social no Brasil

Índice de isolamento social no Brasil

Figura 1: Índice de Isolamento Social: Brasil; Fonte e elaboração: In Loco

É importante notar que o índice de isolamento social recomendado por especialistas para que a propagação do vírus seja controlada é de 60%. Percebe-se, então, que em poucos momentos o país alcançou o patamar recomendado, apesar de apresentar variações dentro das diversas regiões.

Observar o índice de isolamento social é importante, pois permite uma melhor análise da evolução de casos dentro do país. Enquanto não existem vacinas ou tratamento eficazes, essa é a única medida de contenção do vírus, sendo medida essencial para o controle da doença.

Analisando a figura abaixo, de número de novos casos por data de notificação, percebe-se que as medidas de restrição e de fechamento da economia auxiliaram na contenção da propagação no início da pandemia no país. Até meados de maio, o número de novos casos confirmados por dia ainda não havia atingido mais de 10 mil, e a média nesse período era de 2,3 mil casos por dia. Após esse período – que coincide com a queda nas taxas de isolamento social –, no entanto, os números de casos diários passaram dos 10 mil casos, chegando ao pico de 54.777 novos casos confirmados no dia 19 de junho de 2020. Desde então, não há registro de mais de 50 mil casos em um único dia, mas a média diária de casos confirmados passou para 36.750.

Com isso, o Brasil passou de 1,7 milhão de casos confirmados, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde. Diversos estudos indicam, entretanto, que a subnotificação de casos é expressiva e que esse número poderia até ser 12 vezes maior.

Casos Novos COVID-19 por data de notificação

Casos Novos COVID-19 por data de notificação

Figura 2: Casos Novos de COVID-19 por data de notificação;
Fonte: Ministério da Saúde. Elaboração: SOMMA Investimentos.

Com relação ao número de mortes, dinâmica semelhante é observada. Até meados de maio, o número de novas mortes confirmados por dia ainda não havia atingido mais de mil, e a média nesse período era de 200 mortes por dia. Após esse período os números de mortes diárias ultrapassou a marca de mil, chegando ao pico de 1.473 novos casos confirmados no dia 04 de junho de 2020. Desde então, não há registro de mais de 1.400 casos em um único dia, mas a média diária de casos confirmados passou para 1.000. Com isso, o Brasil passou de 67 mil de mortes confirmados por Covid-19, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde. É importante destacar que as mortes registradas nas últimas 24 horas (padrão utilizado) não necessariamente refletem as mortes que aconteceram dentro desse período – uma vez que pode incorporar mortes que aconteceram anteriormente e não haviam sido notificadas.

Óbitos de COVID -19 por data de notificação

Óbitos de COVID -19 por data de notificação

Figura 3: Óbitos de COVID-19 por data de notificação
Fonte: Ministério da Economia. Elaboração: SOMMA Investimentos.

COMPARAÇÃO INTERNACIONAL

Quando comparamos a evolução da Covid-19 com diversos países, percebemos que as economias mais desenvolvidas se encontram em estágios mais avançados de controle da pandemia. Países europeus – Itália e Espanha –, e a China e já estão com suas curvas de casos acumulados achatadas, o que indica controle na proliferação do vírus. Esses países têm em comum o fato de terem passado por medidas rígidas de fechamento de suas economias, com medidas rigorosas de distanciamento social enquanto o número de novos casos e a taxa de propagação do vírus continuavam elevadas.

Por outro lado, países emergentes – México e Índia – se encontram em estado mais semelhante ao nosso no que diz respeito ao novo coronavírus. Nesses países, a curva ainda segue com uma inclinação considerável, o que indica um aumento ainda forte no número de casos. Em comum, todos tiveram medidas de quarentena mais brandas, ou reabriram as suas economias sem o controle total da pandemia.

É importante observar que, conforme mencionado no Comentário SOMMA 54, enquanto os países emergentes tentam controlar a sua 1ª onda de coronavírus, os países desenvolvidos – apesar de terem obtido o controle da doença – correm risco de uma 2ª onda. Várias regiões dos EUA apresentaram crescimento expressivo no número de casos confirmados, e novos surtos também foram registrados em regiões da Alemanha, China e Austrália. Esse é um risco relevante que só deve ser dissipado com o surgimento de uma vacina ou de algum medicamento que seja eficaz para o tratamento da doença.

Evolução da Covid-19 nos países mais afetados

Evolução da Covid-19 nos países mais afetados

Figura 4: Evolução da Covid-19 nos países mais afetados;
Fonte: Bloomberg. Elaboração: SOMMA Investimentos.

EXPECTATIVAS PARA A PANDEMIA

No que tange às expectativas para os próximos meses, o Ministério da Saúde informou, em apresentação na quarta-feira (8), que as mortes por Covid-19 pararam de crescer no país e entraram em um momento de estabilidade, chamado de platô. Segundo o Ministério, os números de mortes ainda permanecem bastante elevados, mas têm se mostrado constantes desde o final do mês de maio. As contaminações, por outro lado, seguem em alta, e o Brasil estaria longe de registrar quedas consistentes no número de contaminações pela doença.

Diversos estudos tentam estimar, através de modelos matemáticos, quando será o pico da pandemia no país, bem como os respectivos números de mortes e de contaminados nesse momento. Um desses estudos é o do ex-presidente interino do Banco Central, Francisco Lopes.

No cenário mais otimista, as projeções do autor indicam a data terminal de 12 de agosto para a pandemia, com pico de casos em julho – com aproximadamente 45 mil casos por dia. É interessante notar que no momento da estabilização o número total de casos acumulados ao longo da pandemia chegaria a 2,7 milhões – 1 milhão acima dos casos confirmados que temos hoje.

Com relação ao número total de óbitos, o autor afirma que essa projeção é mais difícil de ser realizada, pois depende não apenas da evolução total dos casos e da taxa de propagação, mas também da eficiência do sistema médico do país e de condições físicas da população. Utilizando a taxa de letalidade que chegou a 7% em maio, e utilizando a hipótese de taxa média de 5,7% nos meses seguintes, o número de óbitos novos por dia chegaria a um pico de 2.500 em meados de julho, acumulando um total de óbitos no fim da pandemia próximo a 155 mil – possivelmente um recorde mundial.

As estimativas deixam clara a situação da gravidade no país. O quadro indica, também, que as iniciativas de reabertura econômica e o relaxamento das medidas de distanciamento social devem ser graduais. Caso contrário, a pandemia pode se alastrar por ainda mais tempo, com número de mortes e de casos confirmados ainda mais elevados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme pode-se perceber, o Brasil se encontra em um estágio diferente das principais economias desenvolvidas no que diz respeito à propagação e contenção da pandemia – apesar de o número de casos nos Estados Unidos ter voltado a subir nas últimas semanas. Enquanto nos países avançados a pandemia está praticamente controlada, o problema ainda permanece em economias emergentes como Brasil, Índia, Peru e México.

A situação, entretanto, não tem impedido a reabertura econômica, mesmo com as projeções indicando os meses de agosto e setembro como a data final para a pandemia. Conforme demonstrado, até em municípios onde há maior incidência dos números de casos essa reabertura acontece – o que pode ser percebido pelo índice de isolamento social do país que se encontra em 38%.

Novas medidas de lockdown e de isolamento social, entretanto, não estão em nosso cenário principal e, sendo assim, novas medidas de restrições em localidades que já reabriram a sua economia, não devem acontecer. Se por um lado a notícia é positiva para a economia – já que os impactos das medidas de lockdown devem ficar restritos ao segundo semestre ­– por outro, o impacto humanitário deve ser bastante expressivo. Infelizmente, esse é um preço com que grande parte dos brasileiros terão que arcar por não ter havido uma articulação mais forte e sensata – por parte de políticos e de algumas camadas da população – nos momentos iniciais em que a pandemia chegou ao país.

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