Tesouro Selic com rentabilidade negativa?

09/12/2020

Tesouro Selic com rentabilidade negativa?

Tesouro Selic

O mês de setembro registrou um evento atípico para os investidores. As LFT (Letra Financeira do Tesouro), também conhecida como Tesouro Selic, acumularam prejuízo. O Tesouro Direto emite títulos de dívida com diversas características a fim de atender às necessidades dos investidores, como os títulos Pós-Fixados, Pré-Fixados e Híbridos. O título considerado mais conservador e de menor risco é a LFT (Tesouro Selic) e é muito utilizado pelos investidores para formação de suas reservas de emergência. E mesmo considerando a característica conservadora desse investimento, ainda assim foi possível verificar esse acontecimento no mercado.

Para entender por que isso pode acontecer, é preciso pontuar a importância da taxa Selic no Tesouro Direto e em como esse papel é precificado no mercado.

 

Vamos pelo começo: o que é taxa Selic?

A taxa Selic é a representação dos juros básicos e é usada como referência em todo o país, como na realização dos empréstimos, por exemplo. O nome vem do sistema administrado pelo Banco Central chamado Sistema Especial de Liquidação e Custódia e registra operações diárias de negociação de títulos públicos de curtíssimo prazo realizados entre as instituições financeiras.

Historicamente, a taxa Selic vem apresentando uma tendência de queda, visto que hoje se encontra no patamar de 2% ao ano, sendo que já alcançou a marca de 14,25% em 2016. Esses cortes realizados ao longo dos anos foram feitos, dentre outras razões, para aumentar o consumo, pois quando os juros caem, o crédito se torna mais barato, sendo assim, a demanda por empréstimo aumenta, fazendo com que circule mais dinheiro na economia.

 

Porque LFT é sensível a sua variação?

A Selic possui uma grande influência nos investimentos em Títulos Públicos e Renda Fixa, e o título mais sensível às oscilações dessa taxa é o Tesouro Selic, pois paga a taxa Selic acumulada pelo período em que carrega na carteira de investimentos. Diariamente, esses títulos são precificados no mercado e essas cotações dos preços podem ser negociadas com ágio (lucro sobre a compra) ou deságio (prejuízo).

Assim como qualquer operação, a cotação dependerá da oferta e demanda no mercado. Se tiver uma quantidade maior de interessados em vender do que os interessados em comprar, haverá um deságio na cotação, ou seja, será vendido por um preço abaixo do que realmente vale. O contrário também se aplica: haverá lucro numa operação quando tiver mais interessados em comprar do que em vender. Logo, o deságio deixa o preço do título abaixo do seu valor atualizado e o ágio coloca o preço para cima.

Durante todo o mês de setembro, as LFT (Tesouro Selic) com vencimento em 2023 e 2025 foram negociadas com deságio. Sendo assim, quem comprou o título em 01/09/2020 ou aplicou em algum Fundo DI (que carregam em grande parte de sua composição as LFT) fechou o mês sem ver o dinheiro render. Isso se deu, pois esses títulos são marcados a mercado, ou seja, independente se houver negociação ou não, o patrimônio é atualizado diariamente pela cotação do mercado. Sendo assim, o investidor que precisar vender nesse cenário certamente terá um prejuízo.

 

Expectativas e cuidados nas escolhas

Um dos motivos que levaram a esse fato ocorrer é influenciado pelo cenário econômico atual. O súbito aumento dos Gastos Públicos deterioraram o déficit fiscal e principalmente a relação Dívida/PIB, indicador que evidencia o quanto de dívida o estado brasileiro possui em relação ao que ele produz de riqueza. Quanto mais baixo for esse indicador, maior a capacidade que o país tem em pagar suas dívidas. Em 2019 esse índice fechou em 75,8% e em previsões pessimistas no início do ano projetavam que essa relação poderia chegar em 81% apenas em 2022. Dado a crise enfrentada com a pandemia da Covid-19, gastos extras fizeram-se necessários e com isso, esse índice encerrará 2020 em 96%, divulgado pela Secretaria Especial de Fazenda do Ministério da Economia.

Essa projeção gerou uma nova posição dos investidores frente ao mercado, pois passaram a cobrar mais caro para continuar emprestando dinheiro ao Governo. Considerando que a inflação e a taxa Selic devem permanecer em patamares mais baixos por um longo período, os investidores que estão buscando uma rentabilidade mais atrativa optam por não comprarem esses títulos, como as LFT (Tesouro Selic). Nesse contexto, para que se consiga vender uma LFT a taxa terá que aumentar, pois caso contrário, venderá com deságio no mercado sendo prejudicial ao investidor que estiver ofertando esse título.

É importante destacar que a queda nos preços desse título tem um impacto maior para o investidor que precisa realizar o resgate num momento turbulento. Caso pretenda carregar o título até o seu vencimento, ainda será uma boa opção para alocação no uso da reserva de emergência, dado que seu rendimento supera o da poupança e é considerado um investimento conservador.

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