Com o aumento da Selic, como fica a renda fixa?

24/03/2021

Com o aumento da Selic, como fica a renda fixa?

Na última quarta-feira (17/03), o Banco Central (BC) surpreendeu o mercado, e elevou em 0,75 p.p. a taxa básica da economia –movimento que deve ajudar a estabilizar a taxa de juros de longo prazo no país. Embora a maior parte desse movimento já estivesse refletida nos preços dos ativos de renda fixa, a decisão ajuda marginalmente as condições de financiamento para as companhias e, associado a um possível aumento no fluxo de aportes em fundos de investimento com o início deste ciclo de alta de juros, poderá sustentar o movimento de valorização dos títulos privados que observamos no SOMMA Torino RF CP.

A intensidade da decisão acima e as indicações no comunicado do Copom têm como objetivo ancorar as expectativas de inflação no médio prazo, mas a atual conjuntura econômica ainda impõe um cenário desafiador ao banco central na condução da política monetária. Estão presentes neste cenário diversos fatores determinantes para o aumento do risco dos ativos domésticos, fatores tanto de origem internacional – elevação do juro longo dos EUA – quanto nacional – agravamento local da pandemia.

Ainda, é importante observar que a elevação da Selic acima do consenso não veio acompanhada de uma queda relevante dos juros longos, o que pode ser encarado como uma sinalização negativa por parte dos investidores. O atraso na vacinação, associado à perspectiva de novas medidas restritivas por conta do eminente colapso no sistema de saúde, resultam em um provável quadro de deterioração fiscal, sob o entendimento que o programa de transferência de renda deverá ser estendido ao longo de 2021.

Enquanto soluções concretas não forem endereçadas pelos poderes do Estado, especialmente o executivo federal, o recrudescimento da pandemia exercerá forte pressão sobre os juros de longo prazo, ao mesmo tempo que já se espera uma elevação mais intensa dos juros de curto prazo, em linha com outros países emergentes.

Feito o alerta, o movimento de mercado a ser observado busca responder qual é o nível correto da curva de juros, e não apenas seu grau de inclinação. Esta é a reflexão necessária para decidir o melhor momento para se executar uma posição de investimento de longo prazo em ativos indexados à curva DI.

Esse é o mesmo nível observado por empresas para decidir sobre capitalização via mercado de capitais, seja capital de acionistas ou de credores. Essas companhias financiam com a atual taxa de juro de longo prazo que, apesar de estar quase 3 vezes maior do que a de curto prazo, ainda está em um nível menor do que as taxas no início da década passada. Este financiamento mais barato é uma ferramenta importante, uma vez que possibilita que grandes empresas reforcem seus caixas para atravessar tempos de incerteza sem terem que desinvestir. Essa capacidade de pagamento é refletida, concomitante a alguns outros fatores, no spread de crédito – taxa em excesso à curva DI – dos títulos privados em negociação no mercado financeiro.

Logo, para a economia como um todo, essa elevação mais responsiva da taxa básica foi um ajuste saudável e necessário, que, inclusive, poderá beneficiar a qualidade de crédito dos emissores de dívida.

Levando este cenário à prática, entendemos que um portfólio high grade, com risco de crédito em patamares ao redor de DI + 2,0% a.a. para vencimento no longo prazo, se destaca como uma boa opção de investimento.

Em um cenário otimista, com a curva de juros se estabilizando no patamar atual, o retorno nominal desse investimento pode chegar ao redor de 9% a.a. Considerando que o Banco Central conduzirá corretamente a política monetária para levar a inflação ao centro da sua meta, podemos esperar um retorno real ao de redor de 5% a.a. no médio prazo.

Mesmo em um cenário pessimista, onde os preços dos ativos poderão se deteriorar no curto prazo por conta de um deslocamento da curva de juros e pela exigência de maiores prêmios de risco, mas considerando a inflação dentro da meta, o investidor terá um portfólio carregando ativos com um retorno nominal ainda maior, um benefício da indexação pós-fixada.

Em resumo, a seleção de ativos a compor tal portfólio deverá levar em consideração ao menos dois fatores: o primeiro é uma boa combinação entre spread de crédito e duration, métricas associadas ao risco de mercado e a curva DI; e o segundo é a capacidade de pagamento das empresas em cenários de estresse. Com esses riscos definidos e mantidos sob monitoramento, o retorno no longo prazo tende a ser positivo.

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