Análise Econômica da Semana | Flávio Bolsonaro anuncia pré-candidatura
01 a 05 de dezembro de 2025
Por César Garritano, Economista-chefe da SOMMA Investimentos
Destaques da Semana
- A semana foi negativa para os mercados domésticos;
- O Ibovespa caiu perto de 1,0%, enquanto os juros nominais e reais apresentaram forte abertura. O real, por sua vez, teve desvalorização de 2,0% frente ao dólar americano;
- O principal fator explicativo do desempenho dos mercados esteve ligado ao anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência da República;
- Além disso, o ambiente político local também contou com o aumento das tensões entre os Poderes e com a aprovação da LDO de 2026 na Câmara;
- Do lado econômico, os indicadores divulgados confirmaram o movimento de perda de tração da economia no segundo semestre;
- Da cena global, o conjunto de indicadores continuou apontando moderação nas condições de emprego da economia americana;
- Nesse contexto, o mercado solidificou as apostas de cortes de juros na reunião do FED da próxima semana.
Cenário Internacional
Do lado dos indicadores de atividade econômica dos EUA, a semana não trouxe surpresas. Ambos os PMIs de serviços de novembro (S&P e ISM), divulgados ao longo da semana, vieram ligeiramente próximos ao esperado. A produção industrial de setembro, divulgada de maneira defasada, também veio em linha com as projeções e pouco acrescentou à interpretação dos dados.
Igualmente, no que diz respeito à inflação norte-americana, os dados conhecidos nessa semana não destoaram do esperado. Nesse sentido, tanto o PCE de setembro quanto sua métrica de núcleo apresentaram crescimento em linha com expectativas, a 0,3% e 0,2%, respectivamente. Do ponto de vista qualitativo, a dinâmica do componente de Serviços também se mostrou favorável, perdendo força pela primeira vez desde abril.
Se houve alguma nuance mais desagradável do dado de inflação divulgado nessa semana, provavelmente foi a reaceleração marginal do componente de Bens. No entanto, ressaltamos que as leituras anteriores, particularmente a de julho, haviam assinalado queda nos preços desse grupo – motivo pelo qual acreditamos que, em parte, a alta registrada em setembro seja uma devolução de movimento. No saldo, a nossa interpretação é, portanto, de um dado de inflação relativamente comportado – ou, no limite, sem novos motivos de preocupação.
Contudo, do lado do mercado de trabalho, houve surpresas relevantes — especialmente no que diz respeito ao relatório de empregos privados ADP. O consenso do mercado esperava uma alta de 10 mil vagas, número que já seria considerado fraco. Contudo, o indicador mostrou uma contração líquida de 32 mil vagas de emprego no setor privado. Além do valor, qualitativamente também foi uma leitura frágil, com perda de vagas tanto na manufatura quanto em serviços.
O ADP costuma ser volátil e, devido às suas nuances metodológicas, não tem o mesmo peso do Nonfarm Payroll. Ainda assim, o dado é uma evidência de que o mercado de trabalho americano está desacelerando, indicando perda de ímpeto na contratação por parte das firmas — movimento que já vem sendo observado ao longo dos últimos meses.
Cenário Doméstico
Do lado da atividade, o PIB do 3T confirmou o cenário de acomodação da economia durante o período, fato que, em alguma medida, já havia sido antecipado pelos indicadores mensais do IBGE. A métrica mostrou alta de 0,1% na comparação trimestral (1,7% a/a), em linha com nossas expectativas (0,1% t/t), mas ligeiramente abaixo do consenso (0,2% t/t). Mais do que o número agregado, a abertura evidenciou um movimento de moderação mais claro nos setores mais cíclicos. Pelo lado da oferta, essa dinâmica pode ser observada quando se nota a contração (-0,6% a/a) na indústria de transformação e o crescimento em ritmo mais fraco no setor de serviços (1,3% a/a ante 1,9% a/a no 2T). Além disso, pelo lado da demanda, constata-se interpretação semelhante: moderação no consumo das famílias (0,4% a/a ante 1,8% no 2T) e na Formação Bruta de Capital Fixo (2,3% a/a ante 4,1% a/a). Por outro lado, vale destacar que os elos mais fortes da economia seguem sendo os setores exógenos, como agropecuária (10,1% t/t) e indústria extrativa (11,9% t/t). O primeiro setor foi afetado pelas boas safras de algumas culturas (milho, laranja, algodão, trigo e pecuária), enquanto o segundo foi impulsionado pela Indústria Extrativa Mineral (principalmente por petróleo e gás natural).
Em grandes linhas, o resultado do PIB corroborou o cenário de desaceleração da economia no segundo semestre. Nesse sentido, vale ressaltar que a primeira pesquisa de atividade do IBGE referente ao 4T também sinalizou continuidade da perda de força. A Pesquisa Industrial Mensal (PIM) apresentou alta de 0,1%, número abaixo do esperado pelo mercado (0,5%). A dinâmica próxima da estabilidade em outubro foi garantida pelo forte desempenho da indústria extrativa no mês (3,6% m/m). Já a indústria de transformação, mais sensível às condições macroeconômicas e mais correlacionada com o ciclo, apresentou contração no período (-0,6% m/m). Sendo assim, é possível afirmar que a tendência de acomodação da atividade deve continuar ao longo dos próximos trimestres.
O desenrolar do cenário político foi bastante tumultuado. O acirramento das tensões entre os Poderes e a votação da LDO de 2026 foram, de maneira esparsa, as principais pautas durante a semana. No entanto, o fato mais importante — e de maior repercussão — concentrou-se nas últimas horas de negociação do mercado: Flávio Bolsonaro anunciou que será candidato à Presidência da República.
A notícia provocou forte reação negativa por parte dos mercados. Os juros futuros dispararam e abriram mais 60 pontos nos vencimentos mais longos. A bolsa brasileira passou por uma forte correção, caindo mais de 4,0% na variação diária e devolvendo todos os ganhos acumulados até a quinta-feira (04/12). Além disso, a moeda brasileira também sofreu perdas, com depreciação de 2,7% frente ao dólar americano. O fio condutor dessa dinâmica assenta-se na narrativa de que Flávio seria um candidato mais frágil em um eventual segundo turno em 2026 — especialmente devido à forte rejeição ao nome Bolsonaro por parte dos eleitores. Os mercados passaram a precificar que a eleição de 2026 se tornaria um “flashback” do pleito de 2022, aumentando a probabilidade de um governo Lula 4.
De nossa parte, entendemos que ainda é necessário cautela para interpretar as notícias e vaticinar sobre a dinâmica do ano que vem. Por ora, seguimos interpretando a decisão de Flávio Bolsonaro como um movimento de teste, com o intuito de sondar o apoio e a competitividade que uma eventual candidatura poderia receber. Além disso, o anúncio também pode servir como forma de retomar protagonismo frente às demais forças da oposição. Entendemos que são baixos os incentivos para levar a candidatura até o fim: em caso de derrota, Flávio Bolsonaro perderia sua posição como senador, e a oposição perderia a chance de lançar um candidato mais forte. Sendo assim, seguiremos acompanhando o desenrolar dessas questões nas próximas semanas.
Adicionalmente, como comentado anteriormente, a semana também foi marcada pelo acirramento das tensões entre os três poderes. Especificamente entre o Executivo e o Legislativo, a situação conturbada foi agravada pela decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, de adiar a sabatina do indicado do governo para a cadeira do STF, Jorge Messias. Além disso, a relação entre Legislativo e Judiciário também foi considerada marginalmente pior após os acontecimentos da semana. Isso se deve à decisão do ministro Gilmar Mendes de retirar do Congresso a competência para realizar processos de impeachment de ministros do STF.
A turbulência entre governo e Congresso é especialmente importante de ser acompanhada em virtude da proximidade do ano eleitoral. A despeito de não acreditarmos em uma escalada das tensões, entendemos que o Congresso poderá impor limites à capacidade de atuação do governo no ano que vem, resultando em menos instrumentos para impulsionar a corrida eleitoral em 2026.
Ainda no cenário político, a semana também marcou a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) na Câmara. Os dois principais pontos de atenção concentraram-se na questão envolvendo o cumprimento do arcabouço fiscal e no calendário de emendas parlamentares.
No tema do arcabouço fiscal, a Câmara decidiu autorizar que a equipe econômica faça contingenciamentos no Orçamento com base no piso da meta fiscal, e não no centro da meta. O fato em si é negativo, pois descredibiliza a função da regra fiscal. Apesar disso, vale notar que esse cenário já estava incorporado às expectativas dos participantes do mercado, e o governo já vinha atuando dessa forma desde o início da vigência do arcabouço. Sendo assim, a decisão tem impacto pequeno sobre o cenário e sobre os preços dos ativos.
Adicionalmente, o texto aprovado prevê um calendário para o pagamento de 65% das emendas parlamentares relacionadas à saúde e à assistência social, bem como das transferências especiais, conhecidas como emendas Pix. Nesse caso, ficou acordado que esses recursos deverão ser pagos até o fim do primeiro semestre de 2026. Em resumo, a decisão funciona como um mecanismo de garantia do pagamento das emendas. Neste ano, por exemplo, até novembro, apenas 48% do total de emendas previsto no orçamento havia sido efetivamente pago — fato que gerou descontentamento por parte dos congressistas. Com a medida, esperamos um Congresso com mais recursos e maior capacidade de mobilizar sua base eleitoral e, portanto, com maiores chances de reeleição.


